A parte boa da vida, de Sophie Cousens

Lucy está se sentindo exausta. A rotina de buscar café para produtores de TV , croissants a deixou sobrecarregada. Somam-se a isso uma sequência de desastres amorosos, um apartamento úmido dividido com colegas que sempre se esquecem de comprar o básico — como papel higiênico — e uma sensação constante de fracasso e cansaço.

Depois de mais um dia difícil, ela aceita ir a um encontro que, como tantos outros, termina de forma frustrante. Em desespero, Lucy decide apelar para o destino e coloca uma moeda em uma máquina de desejos que encontra no caminho de casa. Seu pedido é simples e intenso: pular diretamente para a melhor parte de sua vida.

No dia seguinte, ela acorda com uma aliança no dedo e um homem atraente ao seu lado. Além disso, ocupa um cargo de alto nível no trabalho e tem dois filhos. Lucy mal consegue acreditar que aquilo seja real — principalmente quando se olha no espelho e vê o rosto de uma mulher de 40 anos. Será que ela realmente avançou no tempo, como sempre quis, ou apenas perdeu uma grande parte da própria vida? Enquanto tenta se adaptar à nova realidade, Lucy começa a perceber as vantagens da maturidade, mas também se vê diante de uma grande questão: é possível voltar à vida que deixou para trás? E, se for, terá coragem de abandonar aquilo que parece ser a melhor fase?

Antes dessa reviravolta, o dia de Lucy já havia começado com o pé esquerdo. Um vazamento no banheiro, papel higiênico acabado, dinheiro curto para o café da manhã e uma chefe exigindo que ela comprasse croissants tornaram tudo ainda mais caótico.

Dedicatória: para o meu eu de vinte e seis anos. Aguenta firme, gata.

Esse livro foi um dos meus achados no BibliON e aqueceu muito o meu coração. A identificação é inevitável — afinal, quem nunca desejou pular direto para a parte boa da vida e esquecer as fases difíceis?

A história me lembrou bastante o filme Click, estrelado por Adam Sandler, em que o personagem pula partes importantes da vida para chegar mais rápido ao sucesso profissional e acaba vivendo tudo no automático. A sinopse apresenta o livro como uma comédia romântica com toques de fantasia, que brinca com viagens no tempo e remete a clássicos como Quero Ser Grande e De Repente 30. Confesso que nunca assisti a Quero Ser Grande, mas depois dessa leitura fiquei com muita vontade de ver — enquanto De Repente 30 é, sem dúvidas, um clássico.

- Posso ajudar, lindinha? - pergunta ela com um sotaque escocês enquanto descarta um quatro de ouros - Está procurando por algo específico? 
- Uma nova vida - respondo sorrindo para que ela saiba que estou brincando, mas nesse ponto, não estou. A minha língua está doendo, e decido que vou deletar todos os aplicativos de relacionamento do meu telefone. Vou ter que encontrar o amor do jeito antigo: bêbada num bar. Enquanto penso em quanto tempo posso passar aqui sem comprar nada, deixando pegadas pelo chão, encontro uma máquina estranha no fundo da loja. Não parece pertencer a aquele lugar. Tem o tamanho de um caixa eletrônico grande, e, na parte de cima, em letras douradas desgastadas pelo tempo, está escrito "Máquina de desejos".  

Achei muito interessante a construção e o amadurecimento da personagem nessa “nova vida”. A autora foca bastante nas relações de Lucy com a maternidade, o marido e os amigos. Há também uma leve abordagem sobre Alzheimer por parte dos pais, sem se aprofundar demais. Além disso, o livro traz uma atmosfera futurista, com carros automáticos e robôs, o que deixou a leitura curiosa e nada cansativa.

Um dos pontos que mais me agradou foi o relacionamento de Lucy com seu filho mais velho, Félix. Ele percebe que aquela mulher não é exatamente a mãe que conhecia e, quando Lucy explica a situação, ele faz de tudo para ajudá-la a “voltar para a Terra”, como costuma dizer. Aos poucos, Lucy começa a recuperar traços da personalidade da mulher que era antes. Em determinado momento, cheguei a pensar que ela escolheria permanecer no futuro, mas o peso de não se lembrar das próprias memórias começa a afetá-la profundamente. Ela tinha uma nova vida nas mãos, mas não queria perder aquilo que realmente importava.

Eu quero...quero pular para a parte boa, quando a minha vida já estiver nos eixos. Estou cansada de estar sem dinheiro, solteira e estagnada. Quero poder ir logo para o momento em que sei o que estou fazendo, quando tenho algo parecido com uma carreira, quando eu já tiver conhecido a minha cara metade e não precise mais sair em outro encontro desesperador. Só quero morar em um lugar legal, com teto sem goteiras e um chuveiro sem ossos. Se o amor da minha vida estiver por aí, quero chegar na parte em que ele já está na minha vida. Só quero ir para a parte boa da minha vida.  

Também achei muito bonita a reconstrução do relacionamento com Sam, seu marido. A rotina havia tomado conta de tudo: casa, filhos, trabalho. Não sobrava tempo para o casal. Nessa nova fase, o trabalho de Lucy vem sempre em primeiro lugar — não porque ela ame menos os filhos, mas porque o tempo já não permite tantos momentos de conexão, brincadeiras ou programas a dois. E a versão futuristica de Lucy eles saiam para encontro, conversavam a noite inteira, brincava com os filhos no parque, coisas que antes eles não faziam mais, foi muito legal vê eles resgatando pequenas coisas que iam sendo engolidas pelo trabalho e outras coisas do cotidiano. 

- Tenha cuidado com o que deseja - diz a senhora, e levanto o olhar para ver que ela me observa de sua cadeira atrás do balcão. - A vida nunca está resolvida, não importa em qual estágio você esteja.

Outro personagem que me chamou atenção foi o antigo morador do prédio, o senhor Finkley. No futuro, ele desenvolve uma amizade com o filho de Lucy e se mostra apenas um homem solitário, em busca de companhia. Lucy carrega um pré-julgamento enorme sobre ele, mas percebe que, às vezes, tudo o que alguém precisa é de uma conversa.

Uma coisa que você vai encontrar muito nesse livro são diversas referências a cultura pop, é muito bom quando ela vai falando de Carrie Bradshaw ou de alguma outra série/filme e ninguém entende nada.  

Amei demais esse diálogo dela com o pai. 

- Sabe o que eu sempre amei na jardinagem? - pergunta ele, e eu faço que não com a cabeça. - As plantas não se importam com quem somos, o que fizemos ou o que esquecemos. Se você as visitar com frequência e cuidar bem delas, vai saber do que precisam. As pessoas também são assim, não precisamos saber toda a história de alguém para saber que ela precisa de um abraço. - Ao dizer isso, ele me puxa para seus braços. 
- Ah, pai. - digo e me entrego

Esse é o meu primeiro contato com a escrita da Sophie Cousens, e quero muito ler outras de suas obras, foi uma delicia ler esse livro e recomendo muito! 

★ 

Título: A parte boa da vida
Autora: Sophie Cousens
Páginas: 272
Editora: Gutenberg
Avaliação: ⭐ 5.0

Quem nunca sonhou em pular as partes difíceis e cruzar logo a linha de chegada para desfrutar do melhor que a vida tem a oferecer? A parte boa da vida é uma comédia romântica com um toque de fantasia que nos leva a uma viagem no tempo no molde dos clássicos filmes Quero ser grande e De repente 30 .

Aos 26 anos, Lucy Young está se sentido exausta. A rotina de buscar cafezinhos para os produtores de TV sêniores a estafou. Também já atingiu sua cota de desastres amorosos, e dividir um apartamento úmido com colegas que sempre se esquecem de comprar o papel higiênico tornou-se cansativo.

Então, após mais um encontro frustrante, ela decide apelar para o destino e colocar uma moeda numa máquina dos desejos que encontrou pelo caminho. Fechando os olhos, Lucy deseja com todas as suas forças pular diretamente para a melhor parte da sua vida.

Na manhã seguinte, surpreende-se ao acordar com uma aliança na mão esquerda e um homem superatraente ao seu lado. Com um alto cargo no trabalho e um incrível casal de filhos, Lucy mal consegue acreditar que isso é real - especialmente quando olha no espelho e vê refletido o rosto de uma mulher de 40 e poucos anos. Será que realmente avançou no tempo como sempre quis ou apenas perdeu uma grande parte da sua vida?

Enquanto se adapta aos novos relacionamentos e às vantagens da maturidade, ela se vê diante de uma grande questão: será possível voltar à vida que deixou para trás? E, se for possível, ela terá coragem de abandonar essa melhor fase?

  1. Interessante essa história, também gostaria de pular pra parte onde eu já estou casada com o amor da minha vida, porque tô cansada dos dates frustrantes :(

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

    ResponderExcluir