de 2015 para 2025 se passaram 10 anos, e eu nem acredito que já passou tudo isso.
Vivi muita coisa durante esse período. Em 2015 eu tinha 15/16 anos, então é óbvio que a gente carrega muita coisa desses anos.
Me inspirei nas postagens da Renata Carvalho, do blog Livro de Memórias. Eu já estava pensando em fazer algo assim, mas faltava coragem.
a carta eu vou escrever vai ser em terceira pessoa: OBS: me arrependi um pouco de ter feito em terceira pessoa, mas fiquei com preguiça de colocar tudo em primeira pessoa. vamos lá!
“você acabou de entrar no ensino médio, mas ninguém te preparou para o que estava por vir. os amigos do fundamental não vão estar com você nesse novo ciclo, e sabemos o quanto você vai ter dificuldade em se adaptar.
o primeiro ano vai ser difícil. terão matérias que você nunca viu, você vai sofrer com matemática e, na hora da prova, não vai saber resolver nem uma conta. mas os alunos vão se ajudar, e a maioria vai colar.
você vai fazer algumas amizades, mas nada que você ache que vai levar pra vida.
vai se sentir cansada por não dormir bem à noite, e isso vai afetar seu humor e a forma como trata as pessoas. você não era grosseira, era quieta — e isso às vezes não era bem visto. as pessoas te fariam de trouxa com facilidade, e você não se impunha. deixava pisarem em você. no meio do ano, cogitou mudar de escola porque achava que não ia conseguir se enturmar. no final, sua mãe perguntou se queria trocar e você disse que não.
você não vai querer namoradinhos, não vai querer gostar de ninguém. até que, no segundo ano, as coisas mudam. você já está mais adaptada ao ambiente e faz uma das amizades que leva até hoje — aquela unida, que você coloca a mão no fogo, que te apoiou quando você estava na pior.
no segundo ano começa a pressão para estudar para o enem. os professores insistem que os alunos pesquisem cursos, carreiras. mas como você ia olhar algo se nem sabia o que queria?
o terceiro ano é marcante. acontecem muitas coisas boas: apresentações, peças, palestras, greves… um conselho que eu te daria hoje seria: se dedica mais aos estudos, dorme bem à noite e tenta se enturmar um pouco mais.
entre 2018 e 2019 tudo muda drasticamente. com 18 anos, recém saída do ensino médio, sem saber o que fazer — estudar ou trabalhar. você começa um pré-vestibular sem saber que aquele seria um dos seus melhores anos. faz amizades, algumas que leva pra vida, outras nem tanto. você poderia ter sido mais gentil com essas pessoas e com você mesma.
arruma um emprego, mas não sabe controlar suas finanças e vive endividada. quando sua supervisora falava coisas horríveis, você poderia ter reagido melhor. sabemos que isso te deixou com sequelas: insegura, com crises de ansiedade, e você ficou anos sem trabalhar por medo dessa experiência.
você entra em muitos apps de relacionamento — até hoje não entendo pra quê se você nem queria se relacionar com ninguém. acho que queria só fazer amigos. no curso, conhece uma pessoa com quem talvez quisesse algo mais, mas você era tão fechada… talvez se tivesse se permitido, teria dado certo. mas a pessoa certa ainda ia chegar — você só não sabia.
você curtiu o penúltimo carnaval da sua vida, fumou seu primeiro cigarro, foi pra uma rave, passou o ano novo na praia, experimentou maconha pela primeira vez só pra saber como era. percebeu que não gostava de nada disso — e tá tudo bem.
2019 você estava no auge da sua beleza, mas a sua autoestima era tão baixa, que você era a única que não enxergava isso. Se sabotava tanto que não percebia o quanto tinha potencial.
2020 chega e já existiam notícias sobre covid, mas ainda abafadas pela mídia. você se afasta do blog, mas continua acompanhando. começa um curso técnico de administração, adora. curte o verão tim, com shows em copacabana. e curte seu último carnaval, onde se divertiu muito.
até que começa uma pandemia global. decretam o fechamento de tudo. você fica 9 meses presa em casa. meses difíceis, onde parecia que você não reagia a nada. o número de mortos te deixava ansiosa e triste. muita gente não respeitava o isolamento.
depois de 9 meses, você consegue um novo emprego — previsto pra março, adiado pra novembro. você entende, era na área hospitalar e o risco era grande. nesse emprego, você era valorizada, tratada com carinho. e ali, conhece uma pessoa que já era seu melhor amigo. hoje, estão há 6 anos juntos, construindo a vida de vocês.
de 2020 a 2022 acontecem muitas coisas no mundo. em algum momento você vai se sentir culpada, achando que poderia ter feito mais — mesmo respeitando o isolamento. mas você fez o que pôde. algumas pessoas vão se afastar quando você começar a namorar.
em 2022 você começa outro técnico em administração. em 2023 realiza seu sonho de ir ao show do rbd. em 2024 você fica noiva e, em 2025, começa uma graduação. sua saúde mental despenca. e no segundo semestre você vai morar com seu noivo.
sei que você resumiu muita coisa, porque é difícil falar de tudo que aconteceu em 10 anos. mas quero dizer o quanto tenho orgulho da pessoa que você está se tornando. tiveram dias muito difíceis, você deixava as pessoas te fazerem de trouxa, era chacota, mas aos poucos aprendeu a falar quando algo te incomoda.
meu conselho: seja mais comunicativa e não guarde tudo pra si. conversar não vai te matar.
procure ajuda profissional — teve momentos em que você queria desistir, e você deixou pra vida adulta pra admitir isso. não tem problema. o importante é reconhecer.
cuide mais da sua saúde física e mental. você é muito sedentária e agora mora num lugar onde pode correr (mesmo sendo longe). priorize seu autocuidado. seja fiel a si mesma e aos seus próprios interesses. pare de deixar de fazer as coisas por medo do que vão pensar. se você parar pra pensar… ninguém se importa.”
