25 set. 25
Terminei esta leitura no início do mês e, embora algumas informações possam ter se perdido, quero deixar um registro para o meu futuro caderno de leitura. Este registro será dividido em duas partes: o enredo da história e minhas impressões sobre a obra.
Antes de começar, é importante ressaltar que não compactuo com nada do que é retratado nesta fanfic. Estou apenas compartilhando o que achei da obra.
Avisos de Gatilho
Esta é uma história incrivelmente sombria e pesada. Há discussões sobre violência, tortura e estupro. Não é recomendada se você estiver passando por um momento difícil, e definitivamente não é para menores. A classificação "Explícito" aqui não é sinônimo de "sexy"; a fic apresenta sexo explícito, violência explícita, violência sexual e psicológica.
Sinopse da Fanfic
A história é uma fanfic de Draco e Hermione, e devo confessar que, após descobrir que as pessoas shippavam os dois, minha mente ficou a mil. Eu simplesmente não consigo enxergá-la sem estar com o Rony.
A trama se passa em um universo alternativo onde Harry Potter morreu, Voldemort venceu a guerra, e Hermione é forçada a ser escrava de Draco Malfoy. A autora se inspirou em O Conto da Aia, um livro famoso que, inclusive, teve uma adaptação em série e foi tema do vestibular da UERJ 2025.
Com 1.400 páginas, levei 40 dias para terminar a leitura. Os capítulos eram enormes e precisei de estômago para digerir algumas cenas. Em vários momentos, quis desistir, pois a história parecia não progredir. Senti que ela não andava, mas continuei insistindo até que as coisas começaram a avançar.
A fanfic foi adaptada para uma história original e será publicada pela Editora Intrínseca. Inclusive, na Bienal do Livro, já havia uma prévia do que seria a obra. Como os direitos foram comprados, a história mudará de universo e nome, passando a se chamar Alchemised.
A narrativa se passa após a Batalha de Hogwarts, onde Harry perdeu a guerra e Voldemort triunfou. Inspirado em O Conto da Aia, Voldemort decide repovoar o mundo bruxo, pois a taxa de natalidade caiu. Ele cria um programa onde mulheres são forçadas a engravidar para gerar mais bruxos puro-sangue.
Hermione, membro da Ordem da Fênix, a principal inimiga de Voldemort, é capturada e submetida a uma prisão sensorial por um ano, onde fica sem ver, ouvir ou enxergar. Ela detém muitas informações que Voldemort deseja sobre a Ordem e os eventos da guerra. Quando eles descobrem que ela está viva, a designam para o Alto Reeve, que é Draco. Voldmort, por um motivo não explicado, fica obcecado em ter um herdeiro Malfoy.
A história se desenrola em duas linhas do tempo: o presente, onde Hermione está sem suas lembranças, e flashbacks que explicam tudo o que aconteceu antes da morte de Harry e revelam segredos da Ordem.
Draco e Hermione possuem a habilidade de Legilimência. Após ficar presa, ela aprende a proteger suas memórias, principalmente as que tem com Draco, mas acaba esquecendo todo o período da guerra e até mesmo a existência dele. Quando ela é levada para a mansão dele, não se lembra de ter estado lá antes.
Voldemort acredita que, se ela engravidar, ficará mais vulnerável e ele poderá extrair suas memórias. A questão é que Draco é forçado a torturá-la, pois está constantemente sob a Maldição Cruciatus, a mesma que vitimou os pais de Neville Longbottom.
O dia a dia na Mansão Malfoy é péssimo. Como ela estava muito debilitada pela prisão sensorial — sem sol, sem se alimentar, sem magia — ela demora a engravidar. A tortura psicológica a deixava dias acamada e, mesmo que tentasse sair sozinha, sempre acabava tendo um ataque de pânico, precisando da companhia de Draco.
Lamentavelmente, ela engravida e, com o tempo, recupera suas memórias. Nos flashbacks, entendemos que Draco estava ajudando a Ordem, sendo um espião infiltrado. Por alguma razão, ele queria a Hermione, e ela era a responsável por coletar as informações dele e repassá-las. Com o tempo, ele a ensinou a se proteger e a praticar Legilimência. É nesse período que um afeto e um sentimento crescem entre eles.
A cada momento, Voldemort matava alguém da Ordem, e todos de quem gostávamos, praticamente, estavam mortos. Diferente dos filmes e livros, nessa história, Harry desconsidera a opinião de Hermione e dá muito mais importância a Rony. Ele era detestável com ela porque ela sabia que eles perderiam a guerra e sugeria o uso de magia negra. Harry se recusava, pois acreditava que o bem venceria o mal e que essas maldições deixavam marcas permanentes. Rony também era insuportável, chamando-a de "bitch" e insensível. A guerra os mudou, e eles não eram mais os mesmos. O que Hermione não aguentava era ver os amigos morrerem.
Durante um surto, após perder Harry, Rony e os Weasley, Hermione entra em um lugar com uma bomba e mata muitos Comensais da Morte. A partir daí, ela se torna inimiga pública de Voldemort e acaba na prisão sensorial, e depois na casa de Draco.
Ela ficou dois anos sem usar magia, mas durante o ano em que esteve presa, Draco a procurou incessantemente, pois não acreditava que ela estivesse morta. O enredo não é nada feliz. Draco, como líder do exército de Voldemort, mata muitas pessoas — tanto do bem quanto do mal —, inclusive para proteger Hermione. Após os flashbacks, compreendemos melhor o porquê de Draco e Hermione agirem da forma que agem no presente.
Ela descobre que Voldemort está doente e que nenhum sangue de unicórnio poderia salvá-lo. Com a morte de Harry, que era metade da Horcrux, ele não teria como voltar. Eles correm contra o tempo para se livrarem das correntes e fugirem. No decorrer do livro, descobrimos que, se soubessem que Draco está vivo, ele seria julgado e talvez condenado à morte por seus crimes de guerra.
No final, eles forjam a própria morte. Outro membro da Ordem, que sobreviveu, acaba matando Voldemort. Draco e Hermione vivem em uma ilha isolada com a filha, e não querem que ela se torne bruxa ou vá para Hogwarts. O mais problemático, na minha opinião, é que eles omitem muitas das ações de Draco para a filha, para que a percepção dela sobre o pai não mude. Mas acredito que ela descobriria os crimes dele de qualquer forma.
Algo que me indignou foi a forma como Hermione foi reduzida a quase nada, como se não tivesse realizado grandes feitos na guerra. A filha deles encontra um pedaço de jornal velho e descobre como a história da guerra foi contada. Hermione, que desenvolveu métodos de cura importantíssimos, foi descrita como um membro não ativo da Ordem da Fênix, que não lutou. O mundo bruxo acredita que ela morreu no repovoamento, mesmo que ela tenha tentado muito escapar disso.
Minhas opiniões sobre a fanfic
Esta leitura mudou completamente minha percepção do universo de Harry Potter, que sempre foi meu "universo conforto". As cenas de tortura psicológica e violência me causaram muita agonia, pavor e desespero, os mesmos sentimentos de Hermione. Não romantizei nada nesta história; até mesmo a Guerra da Papoula não foi tão pesada quanto Manacled, e olha que é um livro bem denso.
É muito triste a forma como os Weasley morrem no livro; em vários momentos, fiquei arrasada só de lembrar.
Na minha opinião, a Hermione se apegou a Draco porque ele era a única pessoa que lhe dava alguma atenção. No presente, antes dos flashbacks, ela chega a ansiar pela presença dele. Ele era obrigado a levá-la para fazer caminhadas e tomar sol, e ela pensava nele quando ele ficava dias fora. Em uma crise de choro e ansiedade, ela questiona se estaria com Síndrome de Estocolmo. Para mim, todo o cenário era problemático.
Apesar de ser muito bem escrito, o livro em si é extremamente problemático. Eu pulava as cenas de violência, pois não tinha estômago para ler, e às vezes eram capítulos inteiros. Todo o contexto de violência e os detalhes da guerra que a autora trouxe são muito desagradáveis. Ela incluiu elementos da Segunda Guerra Mundial, o que tornou a história ainda mais interessante.
Um ponto que não ficou muito claro para mim foi o dano cerebral de Hermione. Por ter sido torturada para forçar as memórias a voltarem, ela começou a esquecer gradualmente algumas coisas, como a filha e até mesmo o Draco. Ela chegou a visitar um curandeiro que confirmou danos permanentes no cérebro. Depois disso, o assunto foi esquecido no churrasco, assim como as próprias memórias dela.
Se eu odiava a Dolores Umbridge no filme A Ordem da Fênix, passei a odiá-la ainda mais nesta fanfic.
A leitura me deu muita vontade de ler O Conto da Aia para entender melhor alguns dos contextos da história. Sei que é um livro atemporal, que levanta muitas questões políticas, a falta de livre-arbítrio e como as mulheres perdem sua identidade, temas que, infelizmente, ainda acontecem hoje em dia.
Algo que achei bem problemático foi Hermione meio que "forçando" Draco a amar a filha. No contexto de violência em que viviam, toda vez que eles tinham que praticar o ato, ele sentia nojo e vomitava, e ela também. Ele amava Hermione, mas sentia repulsa do que era forçado a fazer. O problema é que, quando ela recuperou as memórias, ela basicamente esqueceu tudo o que ele foi obrigado a fazer. Para mim, isso foi ainda pior.
Acredito que deixei algumas coisas de fora, mas fiz questão de registrar o que considerei mais importante. Não estou aqui para recomendar esta leitura, pois nem todos têm estômago para este tipo de conteúdo. Todas as resenhas que faço aqui, incluindo esta, irão para um futuro caderno de leitura, que estou montando para registrar minhas experiências, sejam elas boas ou ruins.
Fui movida pela curiosidade, mas, infelizmente, a história se passa em um contexto muito difícil.


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